quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Distrito 9

No últimos dois domingos fomos ao cinema - o que é um verdadeiro evento, já que nem me lembro mais de quando tinha ido pela última vez.

Fico tentada a jogar a culpa no Rafael, que sempre tem que ser acordado por mim quando o filme acaba (réplica justa do referido: "acho teatro mais divertido e legal" - perdão concedido, com louvor, Mailóvi). Mas não é só culpa dele, não. Nos últimos tempos, procurava aqui e ali alguma coisa interessante para assistir e parece que nada me estimulava. Resolvi arriscar e já posso dizer que o resultado foi bom.

Distrito 9.
Pense assim: pegue uma favela no modelo das do Brasil, coloque um pouco de problemas africanos, aí despeje um monte de alienígenas do tipo fugido dos filmes dos anos 80. Triture tudo no liquidificador. Coloque uns narradores obscuros para contar a história.
Só com isso , sua massa ia ficar sensacional. Mas... ainda está faltando uma coisa: um herói. Ou melhor: um anti-herói!

Taí a cereja do filme!

Quando fui ver D9, eu sabia que encontraria um filme diferente, porque tamanha mistura de problemas sociais com alienígenas não poderia resultar em alguma coisa menos original.
Mas a bela surpresa foi realmente o protagonista do filme (Sharlto Copley), um ator que eu nunca vi nem-mais-gordo-nem-mais-magro e que, em minha opinião, roubou to-tal-men-te a cena.

Não houve favela nem alienígena que superasse o tal Wikus Van De Merwe!

O cara é um estúpido burocrata, casado com a filha de um dos donos da empresa, ou algo assim, que é responsável por controlar o Distrito 9. Acaba sendo laranja da empreitada da empresa que, na verdade, só quer desenvolver uma forma de usar as armas dos alienígenas.

No momento em que ele é "promovido" para controlar a operação de invasão do Distrito 9, onde estão confinados os aliens, o tal Wikus é atropelado pela supresa: como um idiota com eu é escolhido para uma responsabilidade dessas?
Ele não percebe a cilada em que está sendo metido. Aí é a cena-master #1 do filme: a cara de tolo-promovido que todos nós já vimos uma vez na vida nas empresas onde trabalhamos! Dá vontade de fazer um pôster! É uma ironia suprema!

E como todo laranja que se preze, abraça com fervor a causa. Arma uma operação de guerra para invadir a favela dos aliens e, favela invadida... cena-master n#2: ele bate nas portas dos barracos mostrando a ordem de despejo para os aliens - que deveriam "assinar" o papel, dando "ciência" naquilo.

Quase caí da cadeira porque não dava para rir por fora o quanto eu ria por dentro. Qualquer pessoa que viva num mundo burocrático como o nosso se sentiu como aquele alienígena. Essa foi de-mais!

Mas o melhor ainda nem tinha chegado: o tal Wikus acaba tendo contato com um líquido alien e começa a se transformar num deles. A contaminação era previsível: Wikus é desengonçado, tímido, age diante da câmera que o acompanha como ela fosse o verdadeiro alien, enrola microfone no crachá... e, claro, manuseia um artefato com líquido alienígena como se fosse o brinquedo de um filho. É quando se dá a "contaminação".

Durante a história, ele acaba se associando a um dos "camarões" para tentar reverter o processo de transformação do qual acabou sendo vítima. Preste atenção nisto: Wikus não se dá mal por causa do sogro-chefe-gente-boa, nem por causa de nenhum alienígena-favelado ou por qualquer outro ser deste ou de outro planeta.
Wikus é que se contamina!
É sua falta de jeito, ansiedade, sua pressa, a vontade de parecer "o cara" diante das câmeras. Ele consegue, assim como no filme, atingir aquele meio-termo perfeito entre o ódio que provoca seu comportamento puxa-saco, burocrático, acrítico e a ingenuidade que só os tolos de verdade conseguem ter. Da raiva de não conseguir ter raiva dele!

Fazia muito tempo que eu não via um anti-herói tão bem construído como ele. O filme vale por tudo, e principalmente pela mão certeira que fez este personagem.