terça-feira, 29 de setembro de 2009

O que é comer bem?


Esses dias, depois de tanto ser metralhada com milhares de informações sobre nutrição, resolvi tentar saber o que é comer bem.
Acho que ultimamente as áreas ligadas à alimentação sofreram uma explosão enorme. A mídia deve colocar no ar um especialista por período do dia (manhã, tarde, noite), pelo menos, num chute baixo. Na Internet é impossível arriscar números. A todo momento escutamos que devemos comer isso, aquilo, assim e assado (cozido, de preferência).
Paralelamente, ou talvez pelo mesmo motivo, a cada dia surgem pesquisas novas mostrando para que servem determinados alimentos ou de que forma eles agem no nosso corpo.
O problema é que, com uma enxurrada tão grande de informações em constante transformação, tudo fica nebuloso e confuso...
Cada capa de revista traz um vilão ou um mocinho. A última capa da Veja foi sobre o açúcar. Aquelas frases do tipo "Pesquisas mostram que o alimento X faz isso..." acabaram se tornando tão exaustivas que sequer perguntamos que pesquisas são essas e de onde elas vêm.

Simplesmente incorporamos da frase aquilo que entendemos, e acabamos com conceitos enrijecidos. "O alimento X faz bem para o coração.", "A alimento Y diminui o colesterol ruim (essa história de colesterol bom e ruim tem um didatismo tão cômico, que parece coisa de desenho animado).
E não temos qualquer pudor em abandonar esse conceito em prol da próxima capa de revista!
Se o adoçante deve substituir o açúcar hoje, então vamos tomar adoçantes. Daí alguém ventila que o adoçante causa câncer - não tem problema! Encosta o "vidrinho de plástico" lá no fundo do armário e dá-lhe açúcar. Aí o açúcar não serve! O adoçante só causa câncer se ingerido em quantidades absurdas. Então pega o adoçante de novo...
Colocamos nossa "moralidade" em jogo. Mudamos de atitudes e de vilão sem que suba nem um rosadinho no rosto. Vale tudo para termos uma "alimentação saudável"!
O problema de tudo isso é que no vaivém dos vilões e dos mocinhos, parece que começamos a desenvolver uma certa neurose em relação à comida.
Não existe coisa mais bonita do que pessoas que se unem para se alimentar juntas. Isso faz parte da história do homem. Esse hábito de se sentar à mesa e fartar-se em companhia de pessoas amadas é inerente ao ser humano, um ato de confraternização, de alegria... e ultimamente - preste atenção! - sempre que há um grupo de pessoas se alimentando, alguém faz comentários do tipo: "Ah, essa linguiça é colesterol puro!", "Que light esse macarrão com molho, hein?"...
Aquele momento de confraternização se transformou num momento de culpas e desculpas. Não conseguimos mais nos alimentar sem que os "crimes à mesa" roubem a cena e se tornem o assunto da conversa (que estava tão boa).
É fato que o exagero é ruim e que existem formas melhores de se alimentar. Também não questiono uma vírgula o fato de que hoje estamos mais atentos à qualidade daquilo que comemos e mais orientados para isso. Os nutricionistas venceram, ainda bem!
Mas também não posso deixar de dizer que neurose nenhuma é boa. Que existem exageros e contradições nas "pesquisas que mostram" informações sobre alimentos. Que estamos cada vez mais cercados por um modelo de alimentação que, se corresponde a uma forma de saúde, por um lado, é extremamente irreal em muitos pontos da nossa vida urbanizada, industrializada e com horários malucos.
Numa dessas entrevistas de rua, uma repórter parou um rapaz no centro de São Paulo, naquela correria, e ele disse uma frase, todo afobado, que, para mim, resume esse contraste: "Cinco refeições saudáveis por dia é impossível".
Nosso mundo está impossível!
Quando comecei a ouvir falar da linhaça, fiquei curiosa com tantos milagres. Comecei a investigar e percebi que estava diante de um alimento único. Assim, concluí que deveria inseri-lo em minha alimentação.
Se eu soubesse da tragicomédia que ia começar, tinha fugido dela.
Primeiro, o grãozinho é caro. Mesmo assim, comprei e comecei a jogar no meu prato e ingeri-lo inteiro.
Mas descobri que assim não serve!
Para fazer efeito, a linhaça deve ser triturada. Então, ao invés de comprar o grão passei a comprar o pó.
Mas descobri que assim também não serve!
Para ser eficiente, a linhaça tem de ser triturada na hora em que vai ser consumida. Mas como triturar um alimento que parece um alpiste? Eu jogava no liquidificador e batia a seco. Sujava o copo inteiro, então eu "lavava" com o suco que ia beber mas, mesmo assim, boa parte ainda ficava inteira. Bater com o líquido dava um resultado parecido. Macerar servia? Pisar servia? Rezar servia? Aí a coisa começou a ficar cômica - uma vez, peguei um bocado daquilo e triturei na própria boca. Momentos inesquecíveis de vida de passarinho...
Aí finalmente descobri que eu não sirvo para a linhaça!
A novela do café não é diferente. Faz bem? Faz mal? E o ovo? Antes era um veneno e agora é uma alimento como outro qualquer.
A lista é longa e sempre acaba com a frase que mais parece de auto-ajuda: "Moderação é tudo. Nenhum exagero é saudável."
Acho que precisamos também melhorar o modo como as informações de nutrição têm aparecido na televisão, nas revistas e em outros meios de comunicação. Também temos de ficar mais atentos à estabilidade dessas informações antes de sua divulgação. Nutrição é saúde; modismos, não. Eles apenas acabam nos levando a trocar uma doença por outra.

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