segunda-feira, 22 de junho de 2009

Conto de fadas

Escrevi esse conto de fadas para uma atividade do curso...

Era uma vez um rei, chamado Hélio, que vivia numa terra muito distante e bonita, chamada Vale das Cores Coadas. Ele vivia com sua esposa, a rainha Nena, e uma filha, a Princesa Sara.
O Vale das Cores Coadas era um lugar muito especial, recoberto com verdes campinas e uma floresta de árvores muito raras, cujos galhos se abriam para os céus como dedos. Por entre as frondosas ramadas das árvores milenares, o sol passava e se dividia em dezenas de cores, colorindo as terras do reino como nenhum pintor jamais fizesse.
Rei Hélio era um homem muito justo e forte; durante toda sua vida havia reinado com sabedoria suas terras, pois sabia que nelas se escondia um tesouro muito especial:dentro das altas muralhas do Reino das Cores Coadas ficavam os mananciais dos rios Nates e Mylos.
Desde que o mundo era mundo, seus ancestrais haviam protegido aquelas nascentes, pois se dizia que se, um dia, elas caísses em mãos erradas, toda a água do mundo estaria arriscada a perder-se. Então, de geração em geração, aquele reino fora protegido pelos ancestrais do rei Hélio.
Conta-se, porém, que ele não protegia sozinho aquelas nascentes.
Dizia-se que, no meio pedras geladas de onde brotavam as primeiras águas dos rios, vivia um bruxo chamado Undeclo. Ele era o guardião natural das águas; ninguém nunca havia visto seu rosto, mas quem fosse até as pedras poderia ouvir seu sussurro em forma de vento.
Um dia, porém, a guerra explodiu.
O entorno do reino, ano após ano, viu perecer cada terra. As aldeias foram-se extinguindo, os reinos foram minguando e as terras de Cores Coadas viram-se, em pouco tempo, cercadas por hordas de vilões, liderados pelo rei Jaquel.
Jaquel era o vigésimo descendente de Marquel, um rei cuja maldade era tamanha que nem mesmo o tempo conseguia abrandar. Reinara Jaquel a vida toda com uma ambição: a de tomar Cores Coadas, pois sabia que somente a posse das nascentes daria a ele o poder definitivo sobre todos os reinos da terra.
Um dia, o mensageiro de Jaquel entrou pelas muralhas do reino e foi até o palácio. Chamado para ouvir a mensagem, o rei, sua família e toda a corte se reuniram na sala imperial: avisava Jaquel que o reino estava todo cercado e que a invasão não tardaria. E dizia que somente havia uma forma de todos não serem dizimados: era o rei entregar a mão de sua filha, a Princesa Sara, a Jaquel. Assim se fazia a posse pacífica do reino e ele seria preservado.
Muitas foram as lágrimas naquele momento terrível. A pobre princesa, vendo assim selado seu destino, mal ergueu a voz ou os olhos. Vivera até ali toda a beleza da sua despretensiosa juventude, e se a morte por morte viria, então que fosse salvando as vidas de seus súditos. Assim em poucas palavras falou ela aos ouvidos do pai, quando este ainda tentava resistir ao destino.
Viu o rei Hélio o coração de realeza que havia em sua filha. Era rei também e sabia o que devia fazer.
Naquele dia, o sol não apareceu com suas cores sobre o reino...
Sara então esperou a noite chegar. Desceu devagar a escada de ciprestes que ia da janela de seu quarto até o chão e, com os pés descalços em meio à relva úmida da noite, correu rápida pelas árvores de Coa Cores até chegar à grota mais úmida e escura das nascentes.
- Undeclo! – chamou a pobre, já de joelhos sobre as pedras.
Silêncio. Nenhuma resposta a seu apelo.
Ainda chamou Sara muito pelo bruxo. Chamou até ficar sem voz - então chorou desesperada até não suportar mais. Seu coração já não tinha mais esperanças quando, de repente, um sussurro de vento moveu seus cabelos.
- Venha...
A voz chamava para dentro da gruta. Sara não hesitou e com as forças que ainda lhe restavam, entrou sem medo pela caverna escura.
De repente, milhares de seres iluminados, minúsculos, começaram a aparecer e dar forma e luz a seus passos. Um vento envolveu seu corpo e seus pés, - então sentiu que eles não tocavam mais o chão: uma leve nuvem conduzia-a pela trilha de luz dos serezinhos. Subitamente sentiu que seus ombros eram aquecidos por um manto de flores trazido por dezenas de libélulas. A nuvem de ventou ergueu-a bastante, até colocá-la sobre um assento de pedras recoberto por flores. Os seres iluminados coloriam a capela da gruta, formando danças coloridas que enfeitiçavam seus olhos. De repente, a voz de vento fez-se ouvir:
- Sara...águas calmas de amor, águas turvas de dor... Seu coração é água...
A Princesa acordou de repente, já em seu quarto. Teria sido um sonho? Aquelas palavras não saíam de sua mente...!
Era já o outro dia e o exército de Jaquel a aguardava. Seu coração estava cheio de uma coragem que nunca havia sentido. Preparava-se sua ida para depois dos primeiros raios que coassem pelas árvores. A Princesa não se abalava nem mesmo com as lágrimas do reino e dos pais, que estavam a seu lado a todo momento. “Águas calmas de amor, águas turvas de dor. Seu coração é água...”
Havia algum segredo naquelas palavras. Mas qual...? O tempo passava...
O dia caiu rápido e quando os portões foram abertos, Sara então estremeceu. Milhares de soldados raivosos, liderados por um cavaleiro embrutecido, aguardavam sua ida. Atrás de si o reino chorava. As palavras repetiam-se em seus ouvidos quando de repente, uma libélula passou, rápida, e desapareceu carregando seus olhos. Ela então ergueu a visão: o exército inteiro... do lado direito o rio Nates... do lado esquerdo o rio Mylos. Sara ergueu os braços:
- Águas calmas de amor... Águas turvas de dor... Meu coração é água.... é água... – sua mente iluminou-se: Que vai por onde eu for!!
Um ruído assombroso foi ouvido. Uma chuva forte começou sem razão e os rios, calmos e tranqüilos, começaram a encher-se subitamente. O exército comprimiu-se entre as águas, que subiam sem controle. O céu escureceu. Jaquel, imóvel, olhava a Princesa de longe. As águas dos rios começaram a fechar o círculo em torno do exército; ondas ergueram-se e, como ferozes línguas, carregaram para o fundo das águas os audazes guerreiros.
Pouco tempo durou o terrível espetáculo e, quando as águas furiosas dos rios voltaram ao seu leito, todo o exército havia sucumbido.
O reino quedou pasmo diante da cena. E mais ainda se assombrou quando viu, ao lado da Princesa, ainda imobilizada em seu transe, a figura de um exército de luzes que caminhava em direção às águas dos rios e sumia – os ancestrais de Sara não a abandonaram.
Dizem que quem passa perto dos rios hoje é capaz de ouvir um sussurro de vento. As palavras são ininteligíveis, mas alguns dizem sentir uma inexplicável força que vem daquelas águas: uma força mágica, vinda das profundezas do mundo, que transita em cada se vivo em forma do líquido milagroso. É a voz do mago Undeclo, capaz de ressurgir o exército de luz para proteger nossa essência mais pura, sem a qual a vida não existe.

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