segunda-feira, 22 de junho de 2009

Reciclando comportamentos

Recebi uma revista esses dias e, junto com aquela papelada que vem no plástico, ganhei uma cartilha sobre comportamento sustentável. ...E quando comecei a ler as informações, imediatamente me lembrei de minha avó.
Algumas pessoas que, como eu, convivem com idosos lúcidos na faixa dos 80 anos podem não estranhar o fato. Mas outras podem até se perguntar o que uma pessoa nessa idade tem a ver com um assunto assim tão atual.
A resposta a essa questão é simples. Pessoas como minha avó viveram numa época muito diferente da nossa. Coisas que hoje fazem parte da nossa vida, como água corrente na torneira, foram novidades que elas vieram a conhecer junto com seus netos. Água, portanto, sempre foi um luxo. Desperdício de água era um conceito que não existia. Lembro que ela, quando ia lavar a louça, separava um fundo de água numa vasilha e passava todos os pratos antes, tirando os restos de alimento. E aquela “agüinha” com restinhos de comida era usada para “dar um gostinho” na comida dos cachorros.
A água limpa que gotejava era disciplinadamente recolhida e usada na descarga de urina. Os restos orgânicos eram lançados num canto do quintal para virar esterco. Aliás, desperdício de alimento era símbolo de incompetência ao se administrar a casa. E olha que, na memória mais antiga que tenho dela, os filhos já eram crescidos, portanto ela vivia apenas com meu avô em casa – duas pessoas. O que dizer de quando raspo algum resto de alimento no lixo com a desculpa de que em casa somos só dois e sobra, mesmo? Na dela, tudo sempre foi reaproveitado e transformado.
Muito antes de se falar em reciclagem, ela usava embalagens plásticas ou de vidro com uma disciplina impensável nos dias atuais. As vasilhas dela, assim como panelas e outros objetos, têm personalidade própria e história. Pote de sorvete, então, era um fetiche – se emprestasse e não devolvesse, era bronca na certa!
Algumas pessoas podem até pensar que esses hábitos comprometiam os conceitos que hoje temos de higiene. Pois o engano é grosseiro! A casa dela sempre foi de uma limpeza invejável... A idéia de reaproveitar está intrinsecamente associada à de limpeza.
E quando a era dos “reciclas” veio, ela mais do que se sentiu em casa. As famosas embalagens PET se transformaram em dezenas de coisas – vasos de plantas, enfeites, apoios de outros objetos... enfim, uma infinidade de usos. Papéis de presente também sempre foram um estímulo à imaginação: bem guardados, viravam depois cobertura para prateleiras, com simpáticos “bordadinhos” de picote. Outra diversão dela era pegar as caixas de remédio e fazer casinhas, igrejinhas e cidades inteiras, berços em miniatura e caminhas de caixas de fósforo para a gente poder brincar.
Tudo, tudo, tudo sempre foi reaproveitado.
Agora penso de novo na cartilha. Sem dúvida, as idéias que estão ali são excelentes. Mas não são novas. Renovam seu ciclo nos dias de hoje assim como tudo na natureza – são boas idéias recicladas.

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